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Acca sellowiana (O.Berg) Burret, Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 50: 59 (1941).
De entre as 3 espécies pertencentes ao género Acca, esta é a mais popular em toda a Europa e a única cultivada fora das colecções dos jardins botânicos. A enorme resistência que demonstra às baixas temperaturas, faz dela uma planta exótica muitíssimo aplicada nos jardins públicos e privados de gosto tropical e presença permanente nas colecções vivas dos jardins botânicos da Europa do norte, tida como das raras espécies de origem brasileira capaz de sobreviver aos inóspitos invernos daquelas paragens setentrionais.
Os registos do Jardim Botânico de Kew afirmam que a sua distribuição estende-se desde o sul do estado de Minas Gerais até ao Rio Grande do Sul, no Brasil, onde ocorre nas florestas serranas de araucárias (Araucária angustifolia) [1] e à região de Misiones, na Argentina, uma província situada no nordeste do país. Misiones localiza-se entre os 27º S de latitude [2], porém bastante no interior do continente e onde se verifica um clima subtropical húmido, com temperaturas mínimas a coincidir com aquelas das zonas litorais do sul das ilhas Britânicas e Irlanda ou mesmo de climas continentais de Portugal, Espanha, França e Itália. Outra vantagem acrescida é o facto de na região argentina de onde é oriunda, registar-se o índice pluviométrico mais elevado de todo aquele país, o que faz desta espécie capaz de suportar climas bastante húmidos e simultaneamente frios. Outras fontes englobam o Paraguai e o Uruguai como sendo ambos países de origem da Acca sellowiana. Famoso é, também, um pé de Acca sellowiana cresce vigorosa, encostada e protegida por uma parede voltada a oeste, nos jardins de Kew, em Londres, o qual chega a frutificar.
Não querendo aventurar-me pelos nomes vernáculos das espécies botânicas, considero que este é um exemplo curioso de designação popular para esta planta. Guarobí significa fruta verde em Tupi-guaraní, língua indígena brasileira, uma vez que o fruto mantém-se verde mesmo quando maduro. Uma característica muito particular nos frutos açucarados comestíveis, senão mesmo único. O sabor próximo do ananás e de aparência semelhante à goiaba, valeu-lhe o nome popular de goiaba-ananás ou goiaba-serrana por se disseminar nas serras do interior dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e de Minas Gerais, entre os 400m e os 1000 m de altitude. Na realidade ambas pertencem à mesma família das Myrtaceae e não apenas o sabor as aproxima como frutos apetecíveis mas também a sua aparência algo rugosa.
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1 Flora Digital, colecção de imagens de plantas dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina coordenado por Eduardo L. Hettwer Giehl, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. http://www6.ufrgs.br/fitoecologia/florars/index.php?pag=buscar_mini.php&especie=264
2 Refira-se que a província de Misiones localiza-se a 27ºS, isto é bastante mais próximo do equador que a região mais meridional de Portugal, a ponta de Santa Maria, na Ria Formosa, Algarve a 36º57’’N.
No Brasil, o fruto é utilizado para bases de gelados, doces e geleias bem como transformado em sumos e batidos. As opiniões sobre o seu paladar confundem-se entre o ananás, limão, goiaba, maracujá e o morango. Confesso que ainda não tive oportunidade de contribuir para a sua descrição. Por esta razão, transcrevo a seguinte caracterização; polpa sumarenta, dividindo-se numa parte mais gelatinosa, onde se encontram as sementes e uma parte mais firme e levemente granulada junto à casca. Sorver esta polpa causa uma agradabilíssima sensação, trazendo ao degustador a impressão de que a mesma se "derrete" na boca.
As suas pequenas sementes são igualmente apreciadas.
Quando armazenadas em local fresco, os frutos conservar-se-ão em boas condições por um período alargado entre 30 a 40 dias. Relatos confirmam que, em condições ideais de temperatura e humidade, frutos colhidos em França durante os meses de Novembro e Dezembro, mantiveram-se até à Primavera.
Ao descascar o fruto para consumo, deve-se de imediato mergulhá-lo em água levemente salgada ou misturada com sumo de limão de modo a evitar a sua oxidação.
Quando armazenadas em local fresco, os frutos conservar-se-ão em boas condições por um período alargado entre 30 a 40 dias. Relatos confirmam que, em condições ideais de temperatura e humidade, frutos colhidos em França durante os meses de Novembro e Dezembro, mantiveram-se até à Primavera.
Ao descascar o fruto para consumo, deve-se de imediato mergulhá-lo em água levemente salgada ou misturada com sumo de limão de modo a evitar a sua oxidação.
Fruto da Acca sellowiana, (fotografia não do autor)
Trata-se de um arbusto que poderá, nas regiões mediterrânicas da Europa, alcançar entre os 3 aos 7 metros de altura, bem como nas zonas amenas da costa de Lisboa, Caparica e Algarve. O indivíduo da fotografia que se segue, pertence à colecção do Jardim Botânico da Escola Politécnica da Universidade de Lisboa. Está entre os de maior porte em todo o país e conta com mais de 50 anos de existência. O seu magnífico porte arbóreo comprova a grande resistência aos variados climas sentidos em Portugal continental.
O exemplar de boas dimensões existente no Jardim Botânico Tropical de Lisboa. Foto de 2011 do autor
Acca sellowiana, Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Fotografia de 2007
Fotografia não do autor de um exemplar de Acca sellowiana em França, cujo porte se aproxima da árvore encontrada em Lisboa.
Não é uma espécie muito aplicada nos jardins portugueses, por ser rara a sua venda em viveiros e, por conseguinte, os exemplares que poderão ser vistos acham-se, sobretudo, em jardins botânicos nacionais. [3] Um sítio brasileiro refere que esta espécie é muito utilizada como árvore de alinhamento nas ruas das cidades mediterrânicas de Espanha, França e Grécia. Na verdade, e de acordo com o que conheci em viagens a esses destinos, penso que se trata de uma escolha muito rara como árvore de arruamento ou de ornamento, não obstante todo o seu interesse decorativo.
Acca sellowiana, (Fotografia registada em 2006, no Jardim Botânico de Madrid). Exemplar com cerca de 4 m de altura.
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3 Segundo informação contida na obra Fruticultura Tropical, de J. Mendes Ferrão, em 1999 decorriam ensaios de adaptação que se têm revelado muito promissores, principalmente no Algarve. Mais informava que a espécie aclimata-se com muita facilidade à zona da oliveira.
Fotógrafo Marcelo Pedron para a FloraRS. Imagem registada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Note-se o porte deste exemplar idêntico àquele existente no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.
A Acca sellowiana está representada na colecção de plantas ornamentais nos espaços verdes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, sediada em Vila Real onde a temperatura mínima absoluta registada foi de -6,8ºc [4]. Naquela cidade transmontana a temperatura cai abaixo dos 0ºc todos os Invernos, característica de um típico clima continental. A rusticidade desta espécie é provada igualmente pelos exemplares cultivados no Real Jardin Botánico de Madrid, em Espanha. À espécie está atribuída a zona climática 8, tornando-a totalmente tolerante à geada e neve.
São conhecidas plantas cultivadas em Norfolk e na Cornualha, no centro e sul de Inglaterra e uma outra na Escócia, ainda que necessite de alguma maior protecção durante os Invernos mais rigorosos. Deste modo foi descrita como sobrevivente a temperaturas de -12ºc, mas somente em épocas em que a planta se encontrava durante o seu período de dormência total. De referir que, a espécie é perene e mantém as folhas, embora em menor quantidade no Inverno. Épocas de frio extremo poderão provocar a perda quase por completo da folhagem ainda que não afecte a sua sobrevivência.
Um conselho muito pertinente defende que a planta, para que produza frutos, necessita entre 100 a 200 horas de temperatura abaixo dos 7ºc., uma excelência para aqueles que vivem em climas muito frios com ausência de neve durante o Inverno e Verões relativamente quentes. Na verdade, ciclos de calor extremo poderão causar a queda prematura dos frutos. Os frutos que permanecerem na árvore e resistirem ao calor excessivo, mantêm a sua aparência intacta e verde mas no seu interior, tornar-se-ão acastanhados até acabarem por cair em 3 a 4 dias após a vaga de calor.
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4 Torres de Castro, L.F. Alves Ribeiro, J. Colecção de Plantas Ornamentais nos Espaços Verdes da UTAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Sector Editorial dos SDE, 2001
Acca sellowiana, Jardim Botânico de Madrid, exemplar fotografado em 2006.
Um dos dois exemplares do arboreto de espécies exóticas do jardim de Handbury em Ventimiglia, junto à fronteira entre Itália e França. Foto de 2012 do autor.
Este exemplar, também no mesmo jardim em Ventimiglia, de muito bom porte conta já com muitas dezenas de anos. Foto do autor registado em 2012.
Mais dois registos fotográficos dos exemplares citados no jardim de Handbury em 2012. (Foto do autor)
Pormenor das folhas muito características desta espécie neste exemplar existente no Jardim Botânico de Pisa, em Itália. (Foto de 2012 do autor)
Este indivíduo que se encontra no jardim botânico de Pisa, está sujeito a situações de frio intenso. Nesta região do centro de Itália, ocorrem vagas de frio com temperaturas muito baixas. Em 2012 verificou-se um mínimo de -4º C durante dias consecutivos sem que causasse danos na planta. (Foto de 2012 do autor)
Em Portugal, a época de floração surge no fim da Primavera e dura aproximadamente um mês, quando a abundância de flores com filamentos vermelho intenso, enchem a pequena árvore de apontamentos de cor.
Exemplar existente no Jardim Botânico de Lisboa. Fotgrafias de 2007.
A polinização é feita por insectos e as flores são monóicas, ou seja, apresentam os órgãos sexuais dos dois sexos na mesma planta. Por outras palavras, não existem plantas masculinas e outras femininas. Todavia, a polinização tem sido relatada como extremamente difícil, de acordo com a experiência de horticultores, agricultores e simples jardineiros interessados na produção de frutos. O insucesso obrigou, por vezes, à fecundação das flores por meios artificiais, já que as flores, embora vistosas, não atraem insectos como suposto. Um dos processos de fecundação artificial é o recurso a um pincel para passar o pólen de uma flor para outra. O exemplar da colecção de Kew de A. sellowiana anteriormente referenciado, frutifica,por esta via,com regularidade, embora os frutos nem sempre amadureçam.
No mercado surgiram diversos cultivares, entre os quais;
Acca sellowiana ‘Apollo’ e A. sellowiana ‘Gemini’, dois dos recentes cultivares da Nova Zelândia com um registo de 20,000 exemplares vendidos em 1983. Tem como característica os seus frutos pequenos e de casca muito fina. Apesar de oferecer uma floração abundante frutifica melhor se cultivada juntamente com outros indivíduos.
A. sellowiana ‘Edenvale Improved Coolidge’, A. sellowiana ‘Edenvale Late’ e A. sellowiana ‘Edenvale Supreme’ são 3 cultivares criados por um viveiro da Califórnia. Trata-se de uma árvore de crescimento lento e bem adaptada a climas frescos e costeiros.
A. sellowiana ‘Moore’, destaca-se por ser muito vigorosa.
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A. sellowiana ‘Pineapple Gem’, também produzida na Califórnia, os seus frutos de boa qualidade serão em maior número se a planta for sujeita a polinização cruzada. Não é indicada às condições climatéricas das regiões costeiras mais frescas.
A. sellowiana ‘Pancini’,
A. sellowiana ‘Duffy’,
A. sellowiana ‘Nazematze’, foi desenvolvida em San Diego, na Califórnia e tem a particularidade dos seus frutos não oxidarem quando cortados. Melhora a produção de frutos quando polinizada por outros indivíduos. O cultivar ‘Trask’ é indicado para polinizar esta variedade.
A. sellowiana ‘Unique’,
A. sellowiana ‘Large Oval’, um cultivar seleccionado na Austrália.
A. sellowiana ‘Triumph’, um dos mais populares cultivares neozelandeses, foi criado a partir de exemplares do cultivar 'Choiceana'. De vigor médio, desenvolve-se em altura. Aumenta a frutificação quando polinizada por outro cultivar da variedade ‘Mammoth’.
A. sellowiana ‘Trask’, é auto-polinizadora mas indicada para polinizar o cultivar ‘Nazemetz’ aumentando significativamente a produção de frutos.
A. sellowiana ‘Smith’,
A. sellowiana ‘Mammoth’, exemplares de forte crescimento, é oriundo da Nova Zelândia, criado a partir do cultivar ‘Choiceana’. No ano de 1979, 'Mammoth', 'Coolidge' e 'Triumph' eram os cultivares cujos frutos foram considerados os mais indicados para a exportação, pelo New Zealand journal of Agriculture. Apesar de ser auto-polinizador produz frutos de maior porte se forem polinizados por outros indivíduos.
São este os cultivares que mostraram maior capacidade de produção de frutos (de acordo com a informação recolhida em http://www.crfg.org/fg/index.html e The Fruit Gardener, uma publicação bimestral da associação California Rare Fruit Growers, Inc.).
Com a introdução destas variedades mais frutíferas, o processo de polinização das flores não requer os mesmos cuidados e inclusivamente prescindem de intervenção humana nessa fase. Além destas adaptações e para além da auto-polinização (processo efectuado entre flores do mesmo exemplar, limitado a algumas variedades como o caso da A. sellowiana ‘Coolidge’), as plantas produzem, geralmente, mais frutos através da polinização cruzada (polinização feita entre flores de exemplares diferentes). Tenha, por esta razão, mais de um pé plantado num espaçamento de 3 a 5m para assegurar a fecundação das flores e conseguir bons resultados na quantidade de frutos. Concluímos que os cultivares aumenta as expectativas de satisfação no cultivo desta espécie, reduzindo o tempo de espera para a produção dos frutos comestíveis e anulando os cuidados que a espécie não manipulada exige. Escolha, portanto, uma das diversas variedades comerciais acima descritas, que poderá encontrar na internet para aquisição. Uma sugestão de um sítio australiano e outro francês.
Lembre-se que alguns cultivares não são auto-polinizadores, outros são-no mas com produção reduzida de frutos e de baixa qualidade e, raros, concentram uma boa frutificação em quantidade e sem necessidade de mais de um exemplar para fertilizar as suas flores. A A. sellowiana ‘Coolidge’ criado na Austrália em 1908 e largamente utilizado na Califórnia, apresenta-se como uma árvore vigorosa e de rápido crescimento em altura e a A. sellowiana ‘Helena’, uma variedade brasileira, são os cultivares mais indicados e que reúnem as qualidades acima indicadas. O cultivar 'Andre', original do Brasil mas desenvolvido em França, onde é bastante cultivado, frutifica em grande quantidade e com muito boa qualidade sendo igualmente auto-polinizador.
Segue-se uma listagem de outros cultivares lançados no mercado, menos interessantes para o jardineiro amador, uma vez que exigem mais cuidados para obter os melhores resultados.
A. sellowiana 'Hehre' desenvolvido em Los Angeles, a partir de sementes vindas da Argentina, é uma planta vigorosa com folhagem abundante, porém moderadamente frutífera.
A. sellowiana Besson' original do Uruguai e desenvolvido em 1899. É muito cultivado no sul da Índia bem como em França.
A. sellowiana 'Choiceana'. Criada na Austrália, somente 42% das flores são auto-polinizadoras e o seu crescimento não manifesta grande vigor.
A. sellowiana 'Superba'. 67% de capacidade auto-polinizadora e de vigor médio.
A. sellowiana 'Chapman' desenvolvido na Austrália.
A. sellowiana 'David',
A. sellowiana 'Roundjon',
A. sellowiana 'Magnifica', apesar dos seus frutos de grande dimensão, não oferecem grande qualidade.
A. sellowiana 'Robert', as suas folhas acastanhadas são pouco atraentes.
A. sellowiana 'Hirschvogel', tem grande dificuldade em ver as suas flores polinizadas apenas com um indivíduo.
A. sellowiana 'Bliss' tem uma dificuldade moderada em ver as suas flores polinizadas apenas com um indivíduo.
Fontes;
in http://www.crfg.org/fg/index.html
in The Fruit Gardener, uma publicação bimestral da associação California Rare Fruit Growers, Inc.
in The Fruit Gardener, uma publicação bimestral da associação California Rare Fruit Growers, Inc.
Uma variedade brasileira, a Acca sellowiana ‘Helena’, muito apreciada naquele país sul-americano. (Fotografia não do autor).
Existe uma variedade com folhas matizadas de creme, a Acca sellowiana variegata, cultivada sobretudo pelo seu valor ornamental.
Os frutos poderão sofrer com inesperados precoces dias frios de Outono, apesar de as baixas temperaturas melhorarem quer o seu sabor, quer a sua doçura. Aconselha-se ainda que sejam consumidos somente quando caírem no solo, o que deve acontecer no mês de Outubro.
As flores são igualmente comestíveis e testemunhos afirmam que são também doces e perfumadas, tanto quanto os frutos. Dada a dificuldade em obter frutos a partir de plantas cultivadas na Europa, o consumo das flores torna-se interessante, original e relevante. Estarei atento à próxima floração de uma Acca sellowiana e farei pessoalmente a prova. Colha as pétalas cuidadosamente para não afectar a eventual formação do fruto.
São as pétalas de sabor muito doce, a parte da flor de Acca sellowiana consumidas pelo homem e apreciadas como aperitivo e em saladas. Fotografia de 2007, do exemplar existente no jardim botânico da universidade de Lisboa.
A planta prefere solos bem drenados e arejados, uma vez que morre facilmente por asfixia radicular e demonstra excelente tolerância à aridez e seca. Embora não muito exigente quanto ao tipo de solo (desde o arenoso ao argiloso), mostra melhor desenvolvimento em terrenos enriquecidos. Uma outra grande vantagem desta espécie é a capacidade de resistir à proximidade do mar e reagir bem às correntes de ar marítimas. Assim, é uma eleita para os jardins do litoral acima do cabo Raso, no concelho de Cascais, onde a agressividade e intensidade dos ventos marinhos dificultam o elenco de espécies capazes de sobreviver às duras condições daquele litoral. Uma oportunidade ainda pouco explorada pelos habitantes desta região de Portugal.
A cultura em vasos e floreiras é adequada sem limitar a produção de flores como também por vezes de frutos, em indivíduos com 3 anos de vida. Tenha em conta, neste caso, a escolha de cultivares especialmente desenvolvidos para oferecer resultados em pouco tempo. Quando transplantar a planta ou arar a terra circundante a um exemplar, tenha em atenção de não perturbar a superfície em torno do pé uma vez que as raízes são pouco profundas e fibrosas. Cultivar outras plantas nessa zona é igualmente desaconselhável.
Colónias de ácaros de carapaça mole e de carapaça dura estabelecem-se com facilidade e rapidez em plantas debilitadas. (Fotografias não do autor)
Aspecto de uma Ficus microcarpa atacada por uma praga de parasitas que cobrem as suas folhas de um pó negro, quase por completo. A Acca sellowiana é da mesma forma muito propensa a esta praga difícil de erradicar. (Fotografia tirada em 2007, Parque Eduardo VII, Lisboa).
Escolha uma localização soalheira, com sol directo e para as regiões do interior português, as plantas deverão ter protecção dos ventos frios dominantes do quadrante norte.
Evidencia uma notável capacidade para resistir a períodos de grande seca, portanto muito indicada para climas algo quentes e áridos. Quando a rega é negligenciada, as suas folhas, que muito lembram uma oliveira (Olea europaea), respondem ao calor ou demasiada exposição solar, virando a página de cor acinzentada ou tom prateado, na sua direcção a fim de se proteger de queimaduras que o sol poderá provocar-lhe.
As folhas de A. sellowiana quando expostas a pleno sol adquirem uma cor prateada ou verde acinzentado com vista à protecção dos raios solares nos meses de maior intensidade. (Fotografia tirada no Jardim Botânico de Madrid, em 2007).
Acca sellowiana, plantada em local soalheiro, fotografia registada em 2007 no Jardim Botânico de Madrid.
Acca sellowiana, plantada numa zona sombreada, sob um bosque denso no jardim botânico de Lokrum, sul da costa mediterrânica da Croácia. Fotografia de 2006.
As folhas cartáceas, isto é, com textura áspera de pergaminho, adquirem um tom verde mais intenso e menos prateado pela ausência de sol intenso. Os ramos jovens apresentam pêlos esbranquiçados que na botânica se designam por ramos tomentosos.
Nos EUA e Nova Zelândia, é utilizada como sebe e corta-vento, por reagir bem à poda severa. No entanto, opiniões dividem-se sobre este assunto e, no Brasil, não é de todo aconselhada excepto para conseguir uma copa definida e bem formada, com a eliminação dos ramos inferiores. Há comentários de experiências pessoais de cultivadores sobre a inibição na produção de frutos por um período até dois anos; uma vez que os frutos nascem a partir de ramos jovens, a poda reduz a colheita. Os ramos abaixo dos 30 cms do nível do solo devem, no entanto, ser eliminados.
A propagação faz-se por semente e a germinação dá-se entre 1 e 3 meses. Contudo, as plantas levarão muitos anos até frutificar, pelo que os jardineiros mais ansiosos deverão optar por comprar exemplares já enxertados como os diversos cultivares auto-polinizantes, que depois de plantados e estabelecidos tomarão cerca de 2 anos para produzir os primeiros frutos. Também poderá ser multiplicada por estaca em estufa aquecida ou por alporque utilizando em ambos os casos uma mistura de turfa rica com composto. A técnica de alporque é muito praticada em França e na Nova Zelândia. O enraizamento ocorre dentro de 6 meses.
A Acca sellowiana tem como sinónimos as seguintes designações;
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5 João da Silva Barbosa ou João da Silva Feijó, (1760 – 1824), foi um naturalista, mineralogista e militar de carreira nascido no Brasil. Estudou na Universidade de Coimbra e com Alexandre Rodrigues Ferreira, Joaquim José da Silva e Manuel Galvão, formou um grupo de naturalistas que desenvolveram estudos sobre os territórios do ultramar português, nos finais do século XVIII. Feijó deu especial atenção ao estudo das ilhas do arquipélago de Cabo Verde. No Brasil, veio a tornar-se director do Museu de História Nacional.
Em 1890, o botânico e horticultor francês Edouard André, recebeu um exemplar desta árvore da Argentina, [6] para cultivá-la no seu próprio jardim na riviera francesa, no litoral sul de França. Frutificou em 1897 e entusiasmado com o êxito, o botânico publicou uma descrição acompanhada de desenhos coloridos das folhas, flores e frutos na Revue Horticole de 1898. Em pouco tempo, as plantações espalharam-se pelo mediterrâneo, sendo levada até à Crimeia e à Geórgia, na região do Mar Negro e ao Azerbaijão, vizinho deste último. A planta é aí cultivada há mais de setenta anos, graças ao clima favorável, com invernos frios, sem queda de neve e verões bastante quentes. Situação muito parecida com as serras gaúchas, os pampas uruguaios e o norte argentino. Sementes enviadas a partir do sul de França em 1901, pelo Dr. André, para a Califórnia aclimataram-se com sucesso na região de São Francisco e daqui outras tantas plantas foram introduzidas no norte da Flórida, onde se adaptaram com facilidade, para os campos em altitude da Jamaica, por volta de 1912, assim como da Índia. No início do século XX, as regiões de altitude com climas temperados em zonas tropicais do globo foram escolhidas para o seu cultivo, porém é a Nova Zelândia o país que actualmente mais desensolve a produção do fruto. Em 1908, um horticultor introduziu no seu viveiro os cultivares 'Coolidge', 'Choiceana' e 'Superba' vindos da vizinha Austrália. Cultivados como plantas ornamentais na década de 1930, algumas experiências foram realizadas como fruteiras e seleccionados os melhores cultivares quando finalmente em 1983, uma associação de produtores foi fundada, dada a dimensão e importância deste produto naquele país. Hoje, a Nova Zelândia é um importante exportador de Feijoa, nome pelo qual é conhecido e comercializado para os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Holanda e Japão. Algumas fontes bibliográficas estrangeiras consultadas insistem na existência de produtores deste fruto no nosso país, situação que me parece totalmente incorrecta.
Outros autores defendem que a planta foi primeiramente cultivada na Europa por M. de Wette, na Suíça onde em 1887 já era conhecida no Jardim Botânico de Basileia. [7]
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6 Fruticultura Tropical, Espécies com frutos comestíveis, Ferrão, J. E. Mendes, Vol. 1, Instituto de Investigação Científica Tropical, Missão de Macau em Lisboa, 1999, Lisboa.
7 Morton, J. 1987. Feijoa. p. 367–370. In: Fruits of warm climates. Julia F. Morton,Miami , FL.
Por fim, uma pequena referência às outras 2 espécies deste género cuja floração e folhagem não contrasta grandemente com a espécie mais vulgar aqui tratada.
Endémica dos andes peruanos onde se encontra ameaçada pela destruição do seu hábitat natural.
Sinónimos;
Acca velutina Burret, Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 50: 58 (1941).
Tem como regiões nativas um extenso território desde o Perú à Bolívia.
Sinónimos;
Myrtus eugeniiflora Kunth ex O.Berg, Linnaea 27: 139 (1856), pro syn.
Etimologia:
O nome sellowiana, provém do apelido do naturalista alemão, Friedrich Sello (1789-1831). Nascido a 12 de Março, como eu, era filho do jardineiro principal da corte real de Potsdam, perto de Berlim. Cedo demonstrou interesse pela botânica, aprendeu a profissão de jardineiro com o seu pai e de imediato foi enviado para o jardim botânico de Berlim, com a protecção do seu director para trabalhar ao mesmo tempo que aprofundava os estudos. Em Paris, trabalhou no Jardin des Plantes onde contactou com Cuvier e Lamark, dois grandes nomes das ciências francesas. Conheceu Humboldt, o qual financiou e o apoiou nos seus estudos e investigações científicas pela Europa. Estabeleceu-se em Inglaterra e desde então alterou o seu nome para Sellow, anglicizando o apelido alemão original. A convite do cônsul prussiano Baron von Langsdorff (1774-1852), então diplomata no Rio de Janeiro, aceita participar na expedição que este preparou ao Brasil e tornou-se num dos primeiros naturalistas a explorar a flora brasileira do ponto de vista científico. Aprendeu português e com muito entusiasmo iniciou pequenas incursões em torno da cidade do Rio de Janeiro. Bem recebido pelas autoridades portuguesas naquele território, acompanhou expedições de figuras reais, como o príncipe alemão Maximilian zu Wied-Neuwied (1782-1867) ou liderou outras nas quais sempre teve enorme sucesso com descoberta de espécies botânicas que enviou para a Europa. Os naturalistas independentes do século XIX costumavam enviar as suas descobertas para diferentes locais actuando com alguma liberdade. Contemplados foram os jardins botânicos de Portugal e Brasil, por ser o país onde a descoberta foi realizada, Inglaterra, na época o grande centro das ciências naturais em que Londres com o seu Jardim Botânico de Kew, afirmava-se como o mais importante de toda a Europa, e finalmente para a Alemanha, uma vez que Sellow fora durante a maior parte da sua vida profissional financiado pela Prússia. No sul do Brasil e no Uruguai, Sellow recolheu e enviou algumas plantas que hoje são extremamente populares nas floreiras das sacadas de janelas e varandas em toda a Alemanha, Áustria e Suíça. Morre aos 42 anos afogado num rio.
6 Fruticultura Tropical, Espécies com frutos comestíveis, Ferrão, J. E. Mendes, Vol. 1, Instituto de Investigação Científica Tropical, Missão de Macau em Lisboa, 1999, Lisboa.
7 Morton, J. 1987. Feijoa. p. 367–370. In: Fruits of warm climates. Julia F. Morton,
Acca sellowiana (Fotografia não do autor)
Por fim, uma pequena referência às outras 2 espécies deste género cuja floração e folhagem não contrasta grandemente com a espécie mais vulgar aqui tratada.
Acca lanuginosa (Fotografia não do autor)
Sinónimos;
Acca velutina Burret, Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 50: 58 (1941).
Acca macrostema (Fotografia não do autor)
Tem como regiões nativas um extenso território desde o Perú à Bolívia.
Sinónimos;
Bibliografia:
Royal Botanic Gardens, Kew: World Checklist of Selected Plant Families
The Fruit Gardener, uma publicação bimestral da associação California Rare Fruit Growers, Inc.
Fruits of warm climates, Morton, J. 1987. Miami , FL.
Frutas Brasil Frutas, Silva, Silvestre; Tassara, Helena, s.d., Empresa das Artes
Complete Gardening in South Africa, Sheat, W G; Schofield, G, Struik
Lista de cultivares em http://www.crfg.org/fg/index.html
Fruticultura Tropical, Espécies com frutos comestíveis, Ferrão, J. E. Mendes, Vol 1, Instituto de Investigação Científica Tropical, Missão de Macau em Lisboa, 1999, Lisboa.
O nome sellowiana, provém do apelido do naturalista alemão, Friedrich Sello (1789-1831). Nascido a 12 de Março, como eu, era filho do jardineiro principal da corte real de Potsdam, perto de Berlim. Cedo demonstrou interesse pela botânica, aprendeu a profissão de jardineiro com o seu pai e de imediato foi enviado para o jardim botânico de Berlim, com a protecção do seu director para trabalhar ao mesmo tempo que aprofundava os estudos. Em Paris, trabalhou no Jardin des Plantes onde contactou com Cuvier e Lamark, dois grandes nomes das ciências francesas. Conheceu Humboldt, o qual financiou e o apoiou nos seus estudos e investigações científicas pela Europa. Estabeleceu-se em Inglaterra e desde então alterou o seu nome para Sellow, anglicizando o apelido alemão original. A convite do cônsul prussiano Baron von Langsdorff (1774-1852), então diplomata no Rio de Janeiro, aceita participar na expedição que este preparou ao Brasil e tornou-se num dos primeiros naturalistas a explorar a flora brasileira do ponto de vista científico. Aprendeu português e com muito entusiasmo iniciou pequenas incursões em torno da cidade do Rio de Janeiro. Bem recebido pelas autoridades portuguesas naquele território, acompanhou expedições de figuras reais, como o príncipe alemão Maximilian zu Wied-Neuwied (1782-1867) ou liderou outras nas quais sempre teve enorme sucesso com descoberta de espécies botânicas que enviou para a Europa. Os naturalistas independentes do século XIX costumavam enviar as suas descobertas para diferentes locais actuando com alguma liberdade. Contemplados foram os jardins botânicos de Portugal e Brasil, por ser o país onde a descoberta foi realizada, Inglaterra, na época o grande centro das ciências naturais em que Londres com o seu Jardim Botânico de Kew, afirmava-se como o mais importante de toda a Europa, e finalmente para a Alemanha, uma vez que Sellow fora durante a maior parte da sua vida profissional financiado pela Prússia. No sul do Brasil e no Uruguai, Sellow recolheu e enviou algumas plantas que hoje são extremamente populares nas floreiras das sacadas de janelas e varandas em toda a Alemanha, Áustria e Suíça. Morre aos 42 anos afogado num rio.
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Saudações
ResponderEliminarSou brasileiro e por incrível que possa parecer essa planta no Brasil é muito pouco conhecida. Comprei quatro mudas para plantar em casa, mas tive muita dificuldade de encontrar. Você conhece algum instituto que possa me dar informações do cultivo comercial da feijoa aqui no meu país?
Olá,
EliminarObrigado pelo comentário que muito me deixa honrado. Não serei, seguramente, o melhor conhecedor de quem poderá ajudá-lo nesta sua questão, por se tratar de um outro país, embora possa deixar aqui uma sugestão. Contacte o Instituto Plantarum de Harri Lorenzi, São Paulo, onde poderá ter uma orientação do que pretende. Sei que são editores de belíssimas obras onde eu mesmo fui buscar alguma informação sobre a Acca.
Espero ter ajudado e boa sorte no cultivo.
Nuno
Pessoal, na Universidade Federal de Santa Catarina há uma gama de pesquisas já realizadas e em andamento com a Feijoa. No centro de ciências agrárias é possível falar com o professor Rubens Nodari, pesquisador e melhorista desta espécie. Lá temos exemplares da Feijoa, sementes, mudas etc...
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