sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Introdução sobre o autor

Bem-vindos a todos. Chamo-me Nuno P, nasci em Lisboa em Março de 1967, cidade onde vivo. Aqui mantenho dois jardins em terraços situados nos últimos andares de dois prédios diferentes. Soberbos exemplares de bromélias embelezam as paredes entre folhagem exuberante de espécies exclusivamente tropicais. Num segundo ambiente, pomares de citrinos e outras árvores de fruto carregam o jardim de cor e tons mediterrânicos. Espaços amplos e a escolha de espécies estilizadas completam um terceiro recanto contemporâneo.

Por mais de 30 anos, a experiência e observação no comportamento das plantas, as exigências de cultivo adaptadas à especificidade do clima de Portugal continental, alargou o meu conhecimento e entusiasmo sobre exóticas. Neste espaço, partilho esse conhecimento com quem se inspira na natureza, tal como eu. Colecciono bromélias, jardino, cuido de um viveiro de plantas tropicais mantidas ao ar livre e fotografo todos os exemplares exóticos cultivados em zonas de Portugal onde se considera o limite possível para a sua sobrevivência.

Tenho uma licenciatura em Património cultural e Informação turística e durante a conclusão desse curso explorei o estudo exaustivo do património natural na vertente vegetal. Sou um grande admirador de paisagens vegetais urbanas e  de todos os demais locais onde se descobrem exemplares exóticos introduzidos pelo homem. Na oportunidade de viajar, tenho como intuito prioritário descobrir todos os jardins botânicos por onde visito, e museus de história natural.

Mantenho o tempo livre totalmente dedicado ao estudo teórico e prático, de ornamentais tropicais e subtropicais. Ao longo destas três décadas tornei-me fitólogo por via empírica. O que se segue são conselhos de como cultivar mais de 250 géneros de plantas exóticas espalhadas pelas diversas regiões de Portugal.

exoticasemportugal@hotmail.com para quem quiser trocar opiniões e juntar conselhos ou até conversar sobre o tema.

Apresentação do ATLAS DE PLANTAS EXÓTICAS CULTIVADAS EM PORTUGAL

O projecto ATLAS DE PLANTAS EXÓTICAS CULTIVADAS EM PORTUGAL assenta no conhecimento das plantas analisadas em ambientes exteriores nos diversos climas encontrados em Portugal continental. Paralelamente ao estudo explicado em texto sobre a experimentação, a intenção é, simultaneamente, desenvolver uma colecção de imagens de plantas exóticas de climas tropicais e subtropicais cultivadas em todo o território nacional continental. Actualmente são disponibilizadas imagens do arquivo pessoal do autor. Ali estão registados 258 géneros, no total, e até 350 espécies.

O interesse é alargar os ficheiros de cada espécie abrindo a participação a todos os entusiastas e interessados em colaborar neste levantamento sobre o património vegetal exótico a nível nacional. Os contribuintes são especialistas, profissionais, amadores, curiosos, interessados ocasionais, patriotas, fotógrafos, anónimos, e em grande suma o público em geral. Qualquer pessoa pode adicionar imagens ao elenco já existente, enriquecendo o conhecimento sobre o modo de cultivar plantas exóticas no nosso país, colaborando com as suas experiências pessoais registadas em fotografia.

Envie registos fotográficos das suas plantas, estejam onde estiverem, na rua, varanda, quintal, jardim, alpendre desde que cultivadas em permanência no exterior. Pode incluir ainda todas as plantas exóticas que encontre cultivadas em situação de sub-espontâneas, isto é, que tenham crescido de uma forma selvagem sem intenção de ser plantadas naquele local. Um exemplo; qualquer espécie de Cordyline ou Yucca que nasceram selvagens num campo ou terreno incógnito, exemplares negligenciados ou esquecidos num canto de um jardim, quintal ou varanda e que tenham sobrevivido, desde que se distingam pela sua raridade seguindo os critérios abaixo citados;
- espécies exóticas que estejam no limite climático e geográfico para o seu desenvolvimento, isto é, que pelo seu exotismo sejam notadas numa região onde dificilmente se esperaria que sobrevivessem. Um exemplo, um Philodendron bipinnafitidum cultivado ao ar livre em Bragança ou Castelo Branco. Um exemplar de Archontophoenix sp, cultivado no exterior em Évora ou Viseu ou ainda uma palmeira Adonidia merrilli, encontrada plantada sem protecção a céu aberto no Algarve.
- espécies exóticas que pelo seu porte e ou longevidade, surpreendam e sejam meritórias de um registo fotográfico.
- espécies exóticas que surpreendam por qualquer outra justificação e possam enriquecer os dados do banco fotográfico deste projecto.

A qualidade das imagens é controlada de acordo com requisitos mínimos, desde que sejam de leitura perceptível. Pede-se ainda o envio de 2 fotografias, uma com o registo da planta no seu conjunto onde se perceba a paisagem e/ou o local onde está inserido e uma outra que apresente a planta em detalhe. Um número maior de fotos do mesmo exemplar é sempre bem-vindo.
Cada registo fotográfico verá o nome do seu autor associado sempre que publicado, pelo que para tal seja necessário a identidade do fotógrafo (se assim o desejar). Será, por outro lado, obrigatório referir o local exacto onde o registo foi feito com os seguintes elementos;
- cidade, vila ou povoação mais próxima onde a planta foi fotografada, com o maior número de detalhes possível.
- orientação solar e/ou posição cardinal (Norte, Sul, Este, Oeste) a fim de dotar a fotografia de elementos que permitam um estudo mais detalhados sobre o cultivo da planta,
- data aproximada e/ou idade da planta fotografada ou quando foi plantada.
- data do registo fotográfico.
- poderão enviar igualmente um pequeno texto explicativo sobre a adaptação da planta fotografada ao clima onde se encontra, onde foi adquirida, entre outras experiências que sejam interessantes partilhar.

As fotos deverão ser enviadas para exoticasemportugal@hotmail.com 

Este blogue é uma constante fonte de informações e conselhos, em permanente crescimento, com novas espécies de exóticas frequentemente introduzidas e apresentadas todos os meses. Não deixe de visitar e descobrir as novidades com regularidade!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Acalypha wilkesiana

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Acalypha wilkesiana Müll.Arg. in A.P.de Candolle, Prodr. 15(2): 817 (1866).



Raramente a encontramos como planta de interior, seja porque não entra facilmente nos circuitos comerciais do nosso país, seja porque se trata de uma planta que apresenta um desenvolvimento dificultado na exigência de uma atmosfera bastante húmida, para que consigamos toda a sua exuberância e cor. Por conseguinte, quase somente as condições de uma estufa proporcionam esse ambiente descrito. Ora em casa, durante o inverno, tendencialmente o ar é aquecido e seco, acabando por ressequir a fabulosa folhagem, promovendo o aparecimento da cochonilha ou do aranhiço vermelho, o qual rapidamente ataca e lentamente destrói a planta.

A falta de humidade no ambiente em que se encontra é, com frequência, a provável causa na perda das suas folhas adultas, aumentando a dificuldade no crescimento de folhas jovens. Com a planta parca em folhas, ou seja, o maior ponto de interesse deste género botânico, a continuidade de manutenção e cuidados no seu cultivo decresce, por consequência. Por outras palavras, quem cuida dela desanima, esquece-a, remetendo-a para um qualquer lugar da casa, onde em pouco tempo sucumbe.
A drenagem da água de rega é importante para mantê-la saudável. A terra que deve ser bem nutrida e rica, numa mistura de turfa e musgo, e não pode em caso algum estar inundada de água pois o risco de asfixia do sistema radicular é muito elevado. Desta forma, associado à baixa luminosidade do interior das nossas casas, a planta morre com facilidade neste cenário.

A Acalypha wilkesiana tem origem nas ilhas do pacífico e a sua distribuição ocorre desde a região da ilha de Java, na Indonésia, até às ilhas Fiji, a Vanuatu e ao arquipélago das Ilhas Bismarck, segundo defendem os botânicos de Kew Royal Botanical Gardens.
No mercado encontram-se sobretudo cultivares que oferecem um leque muito variado de cores e matizes de folhas. As variedades mais atraentes incidem nos cultivares de tons avermelhados, como sugerem as fotos. A intensidade das cores aumenta quando cultivada numa área muito luminosa e, se possível, soalheira da casa.

Acalypha wilkesiana 'Marginata', Acalypha wilkesiana 'Macrophylla', Acalypha wilkesiana 'Musaica', Acalypha wilkesiana 'Godseffiana' são alguns dos inúmeros nomes de cultivares desenvolvidos. Todos muito semelhantes, têm como cor dominante os tons vermelho acobreado e nenhum demonstrou maior resistência fora das condições de cultivo acima descritas.
Existem dezenas de cultivares que inclusivamente têm nomes diferentes para o mesmo exemplar, o que torna ainda mais problemática a identificação das variedades disponíveis. Deixa de fazer sentido enumerar sequer as designações publicadas e comercializadas uma vez que todas são sensíveis ao frio e exigem o mesmo tratamento de cultivo no exterior.



Acalypha wilkesiana cv. Fotografia registada no Lido do Funchal, Ilha da Madeira em 2006.

Acalypha wilkesiana cv. Fotografia registada no Lido do Funchal, Ilha da Madeira em 2006.

Acalypha wilkesiana cv. Fotografia registada no Lido do Funchal, Ilha da Madeira em 2006.
Acalypha wilkesiana cv. Fotografia registada no Lido do Funchal, Ilha da Madeira em 2006.

Acalypha wilkesiana cv. Fotografia registada no Lido do Funchal, Ilha da Madeira em 2006.



Pessoalmente, aprecio muito a variedade de folha verde matizada de branco creme, designada por Acalypha wilkesiana ‘Hoffmanii’.
Acalypha wilkesiana cv ‘Hoffmanii’ (Fotografias não do autor)

Acalypha wilkesiana cv ? (Fotografia não do autor)





Acalypha wilkesiana cv ‘Inferno’ (fotografias não do autor). Este cultivar tem folhas bastante mais pequenas e mudam a coloração com a época. Passam de um tom bronze a verde-claro. É considerada por muitos horticultores como uma das variedades mais resistentes, inclusivamente tolera alguma geada.


Acalypha wilkesiana cv ‘Firestorm’ (fotografia não do autor).



Se optar por cultivá-la ao ar livre, tenha em consideração que este género, a par do Codiaeum variegatum, é, entre todas as exóticas cultivadas em Portugal, a mais sensível às adversidades do local mais ameno do clima de Portugal continental. As fotografias apresentadas reportam-se a exemplares existentes na ilha da Madeira, em paragens junto à costa onde o mar condiciona o clima, favorecendo uma temperatura mínima relativamente elevada.

Na década de 1990, vi com profundo espanto um exemplar plantado na entrada de um dos edifícios instalados no aeroporto de Lisboa. O arranjo do separador central que antecedia a entrada do parque daquele prédio, estava, na verdade muitíssimo bem conseguido. Uma zona arrelvada, um conjunto de plantas baixas com folhas verdes, e, isolado em destaque, um pé de Acalypha wilkesiana a contrastar com o intenso cenário verde. Porém, dois factores foram descuidados; as correntes de ar frio que associado à falta de humidade do verão lisboeta, desidrataram velozmente a planta, a qual acabou por morrer.

Tudo indicava este desfecho. No entanto, creio que é viável conseguir bons resultados se o local escolhido para o seu cultivo compreender um recanto virado a nascente ou exposto a sul, protegido por uma parede, ou, preferentemente, uma empena que sirva de quebra vento, tanto contra os ventos secos de verão como as correntes frias do inverno.

O efeito da parede, ajudará a criar um ambiente relativamente quente mesmo nos dias mais frios de inverno, desde que soalheiros, pois absorve o calor dos raios do sol o qual será irradiado no período nocturno mais frio. A amplitude conseguida é condição fundamental para o cultivo no exterior. Um alpendre com exposição solar a nascente e sul, resguardado lateralmente de correntes de ar ou de vento forte, é o local mais indicado e com maior segurança para manter o exemplar vivo no exterior. Refira-se que no seu ambiente de origem, em zonas quentes e húmidas do planeta, não aprecia exposição ao vento.

Recomendo uma rega diária, ainda que durante os dias mais frios e soalheiros de inverno. É preferível aumentar o grau de humidade ambiental com temperaturas baixas, a manter planta desidratada, circunstância maior para destruí-la.

Não pode a planta suportar a mais ligeira poda, uma vez que o seu crescimento está dificultado debaixo das condições adversas que encontra, por ser cultivada no exterior. Todos os ramos vivos existentes deverão ser conservados até que sequem e só nesse caso, poderão ser eliminados. Um exemplar, mesmo que levemente podado, sofre um grande dano. A planta tem muita dificuldade em crescer em climas com temperaturas baixas como o nosso e a poda não tem resultados positivos porque não estimula o seu crescimento.

A temperatura tem um factor essencial na sobrevivência deste género entre nós. Ainda que nos Estados Unidos, pareça, através de comentários de jardineiros particulares, e com extremo cepticismo pessoal, que a planta tenha-se estabelecido com êxito em áreas de zona climática 9a (-6.7ºC a -3.9ºC), [1] está, na realidade, confinada aos territórios do estado da Florida de zona climática 11a (4.4ºC a 7.2ºC) e à área metropolitana de San Diego, na Califórnia, também incluída nesta zona climática.


Fotografia de Brandt Maxwell, San Diego, EUA tirada em Vacation Island, San Diego http://www.oocities.org/westcornersville/index.html




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1. USDA ou United States Department of Agriculture, através do departamento de pesquisa agrícola elabora anualmente uma carta onde assinala as zonas climáticas divididas por classes ou categorias. Servem de referência para o cultivo das espécies numa determinada localização, sempre baseado nos registos de temperaturas mínimas absolutas colhidas num período específico. A carta tem uma escala dividida em 12 zonas que por sua vez são subdivididas em classe ‘a’ e ‘b’.




Nesta região costeira de San Diego, o frio pode verificar-se, contudo esporádico e pouco duradouro, com as temperaturas a elevarem-se até aos 20ºc depois de uma noite bastante fria, próximo dos 0ºc. A amplitude térmica é capital para fortalecer a planta durante as noites com acentuado arrefecimento. O mesmo sucede na região de Porto Alegre, no sul do Brasil, onde as temperaturas descem aos 2ºc, embora durante o dia subam até aos 17 ou 18ºc. Este facto é marcante na diferença entre o Inverno mais suave da costa continental portuguesa, nomeadamente no Algarve e as regiões acima citadas.
As fotos em baixo foram todas registadas em Setembro de 2012 pelo autor, no final do Inverno sul-americano, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Brasil. Este indivíduo encontra-se no Jardim Botânico daquela cidade e atravessou períodos de frio intenso, com abaixamento de temperaturas até aos 4ºC. Não parece ter sofrido demasiado ainda que tenha já tido tempo para recuperar de eventuais danos que o frio possa ter causado. Na verdade, durante o Inverno registaram-se temperaturas tão baixas, como já mencionado, mas na mesma estação também chegaram aos 30ºC. A amplitude térmica anula a fragilização que a planta está exposta em climas cujos Invernos são mais duros, como é o caso do nosso, em particular.


 Note na floração neste indivíduo.Foto do autor no Jardim Botânico de Porto Alegre, em 2012.
 As imagens em baixo ilustram um indivíduo que encontrei num quintal abandonado na cidade de Porto Alegre. O facto de se desenvolver entre construções, aumenta a resistência da planta contra o frio, já que o ambiente não arrefece tanto devido à protecção que o cimento proporciona às plantas. Fotos do autor de Setembro de 2012.


Por outro lado, não espere que a planta ganhe volume ou inclusivamente, cresça. Se sobreviver aos vários meses de frio, é já uma enorme conquista e uma situação rara, senão única em Portugal.

Consideradas estas condições de cultivo e posição geográfica, as zonas urbanas ribeirinhas de Lisboa e das maiores cidades algarvias, resumem a área possível de cultivo no exterior, por apresentarem um risco de formação de geada quase nulo. A Acalypha wilkesiana não tolera de todo geada.


Estas magníficas imagens contrariam muitos comentários sobre a intolerância desta planta face ao frio. Numa altitude de 2140 m sobre o nível do mar, no Cerro El Ávila, esta montanha situada sobranceira à cidade de Caracas, a capital da Venezuela, tem um clima tropical de altitude. O frio é intenso em alguns meses do ano, baixando até aos 5ºC com frequência. A Acalypha wilkesiana, aqui fotografada em Dezembro de 2010, comprova a sua capacidade em sobreviver ao frio. A vantagem reside no facto de quando o céu está limpo de nebulosidade, o sol é intenso por estarmos próximos do equador. Durante o Inverno português, mesmo com muitos dias de sol, este jamais produz o mesmo efeito que nos trópicos. Talvez aqui esteja uma justificação plausível…  (Fotos do autor).
 
Este é outro indivíduo que demonstra mais danos causados pelo frio que, por vezes, se faz sentir, naquela cordilheira montanhosa. Os ramos estão despidos de folhas e deverão desenvolver novos rebentos quanto a temperatura voltar a aumentar na Primavera. Aqui está exemplificada a situação de um indivíduo que reage a uma época de frio. Os ramos desprovidos de folhas deverão ser mantidos e jamais eliminados ou podados para que a planta possa recuperar, com rapidez, uma vez que as temperaturas diurnas comecem a aumentar. Fotos do autor de Dezembro de 2010.




As situações de cultivo descritas para esta planta são aplicadas às características meteorológicas de locais muito pontuais de Portugal continental onde estejam reunidas condições para a formação de microclimas. Nas zonas de origem desta espécie e demais regiões do globo onde é largamente cultivada, pede situações diferentes as quais não poderão ser aplicadas no nosso país.

Assim, elenco um série de fotografias que comprovam o desenvolvimento desta planta em zonas do sul de Espanha, sempre muito próximas do mediterrâneo, contributo essencial para as suaves temperaturas sentidas durante o Inverno. Situações semelhantes poderão ser reproduzidas, através de microclimas criados no jardim, na linha da costa do Estoril, Lisboa e, seguramente, na costa algarvia.


 Em cima e em baixo, os belíssimos exemplares de Acalypha wilkesiana que se podem admirar no Jardim Histórico La Concepción, em Málaga. Fotos do autor de Abril de 2013.
 Devo referir o pormenor no uso desta espécie como planta de sebe ou cercadura. Esta utilização pressupõe uma poda técnica e funcional, o que contraria as recomendações tão insistentes sobre esta questão. A verdade é que o clima nesta cidade espanhola é tão benévolo que permite o desbaste agressivo da planta. Foto do autor de Abril de 2013, no Jardim Histórico La Concepción, em Málaga.
 Outro detalhe assenta no facto de este jardim estar localizado a cerca de 15 km para o interior, ainda que dentro do perímetro da cidade de Málaga, e, por essa razão, não beneficiar da influência do mar mediterrâneo que impede o abaixamento das temperaturas a extremos que comprometam a sobrevivência de espécies delicadas. Foto do autor de Abril de 2013, no Jardim Histórico La Concepción, em Málaga.




Em baixo, o exemplar que encontrei no Jardim Botânico da Universidade de Málaga. Mais um episódio de uma planta cultivada numa zona urbana daquela cidade afastada do mar mediterrâneo. Apresenta-se saudável e satisfeita com as condições ecológicas ali reunidas. Foto do autor de Abril de 2013.
 Em cima e em baixo, um exemplar com alguma idade cultivado no Parque de Málaga ou Jardins de Muñoz de Grain, no centro daquela cidade andaluza, próximo do mar. A planta com porte arbustivo confirma uma excelente aclimatação à região. Num cenário português, esta planta teria sempre que estar protegida das correntes de ar, por intermédio de uma parede e nunca cultivada isoladamente. O desenvolvimento desta espécie integrado numa composição de outras plantas, num canteiro bastante exposto, sublinha a doçura do clima daquela cidade. (Foto do autor de Abril de 2013).

Os cenários que passarei a mostrar, são inusitados e somente possíveis no extremo sul da Península Ibérica, Sicília e algumas ilhas gregas como Creta e Rodes, bem como a costa sul de Chipre. Contudo, apenas no sul de Espanha se verifica o uso desta espécie tão sensível e tropical, como planta ornamental para espaços verdes urbanos. Por outro lado, sublinho que somente as cidades espanholas do mediterrâneo recorrem a espécies tropicais para embelezamento de espaços verdes públicos. Esta é uma característica do sul do país vizinho, que soube tirar o melhor partido da amenidade do seu clima, para distinguir e diferenciar os espaços verdes das suas cidades. Percorrer praças e ruas, contornar rotundas e separadores de faixas de rodagem, é como vaguear por jardins tropicais cujas colecções estão, sem que reste qualquer dúvida, ao nível de um grande jardim botânico.

A surpresa em cada esquina, em cada largo e rua, em cada pequeno parque e rotunda das cidades espanholas costeiras ao mediterrâneo, é uma experiência absolutamente imperdível, para quem aprecia, estuda e conhece material vegetal tropical.


Partilho o percurso que realizei entre Almeria e Algeciras, onde praticamente toda a costa permite o cultivo de Acalypha wilkesiana. Todas as fotos são do autor de Novembro de 2012.

Almeria








Motril





Nerja
Este é um caso muito especial dado que o jardim desenvolve-se encravado nas arribas que separam o areal da praia e a cidade. O microclima aqui sentido torna o ambiente mais húmido e protegido das correntes de ar. A luminosidade é igualmente menor e, como consequência, as folhas adquirem menos cor acobreada. De salientar ainda, que este pequeno espaço público estava abandonado e não obstante  estas condições, os enormes arbustos de Acalypha wilkesiana cresciam naturalmente. 
Em baixo, a foto mostra como o mar está a poucos metros da vegetação tropical. Dois exemplares de Howea forsteriana crescem sem qualquer indício de danos causados pela proximidade do mar. Insólito para nós, portugueses, habituados a sentir a agressividade e salinidade do atlântico quer na vegetação como nas construções.
As fotografias publicadas descrevem um raríssimo episódio de botânica tropical no continente europeu, com a interessantíssima particularidade, que importa salientar, isto é, o facto de o espaço estar abandonado e as plantas terem adquirido autonomia para se desenvolverem. Ou seja; este recanto poderia acontecer numa qualquer zona tropical do planeta. Porém, acontece que estamos na Europa. 
Os enormes arbustos apresentavam folhas sãs, sem sinais de ressecamento ou queimaduras causadas pela desidratação, eventualmente resultante do Verão.
Este pequeno jardim sub-espontâneo, mantinha-se em condições pela enorme concentração de exemplares, os quais através da transpiração e da humidade trazida pelo mar, a cerca de 20 metros, permitiam a sobrevivência de todas as espécies sem a intervenção humana. As limitações aqui verificadas confirmam como a clima é suave a ponto de a espécie tolerar alguma negligência no seu cultivo. 
Também em Nerja, mas exposto a um ambiente bastante soalheiro, em oposição à situação anterior, o exemplar em baixo, tem as suas folhas totalmente vermelhas.



Torremolinos
Nesta região da Europa, a Acalypha wilkesiana encontra as condições ecológicas perfeitas para florir.




Marbella
Os exemplares são todos de dimensões extraordinárias e prestam-se para serem podados.




Puerto Banus


Gibraltar
Por curiosidade, as variedades de folha plenamente verde são raras na costa espanhola e difundidas no território inglês de Gibraltar, como planta de ornamento de espaços verdes públicos.

Em baixo, o belíssimo exemplar encontrado no The Alameda, Gibraltar Botanic Gardens, George Don Gates.
Enquanto planta de porte arbóreo, este exemplar foi o maior por mim avistado. Pode ser visto no Jardim Botânico de Gibraltar.


Algeciras

Este foi o maior conjunto que encontrei em toda a costa mediterrânica espanhola, percorrida entre Valência e Huelva. Situa-se nas imediações de Algeciras e era, seguramente, o melhor exemplar de esta espécie de toda a Europa. 


A experimentação é, sem dúvida alguma, a melhor confirmação para o aconselhamento prático no cultivo desta espécie tão delicada. Assim sendo, e após a passagem do Inverno de 2012/2013, a planta manifestou, em dois jardins geograficamente distantes, embora ambos em Lisboa, um comportamento muito satisfatório, tendo sobrevivido com elevada tolerância ao frio da capital portuguesa. A sequência de imagens comprovam o comentário que acabo de fazer;
 Os dois exemplares pertencem ao autor e encontram-se em jardins diferentes. Adquiridos em Outubro de 2012, num viveiro de plantas de interior, ambos foram colocados em locais muito soalheiros nos respectivos jardins para que o sol de Inverno ajudasse a planta a tolerar as baixas temperaturas nocturnas. Fotos do autor de Novembro de 2012.
Em baixo, o encantador aspecto do mesmo exemplar em Outubro de 2013.







Em baixo a mesma planta, fotografada pelo autor em Abril de 2013. Pequenos gomos de folhas juvenis começam a despontar e a planta evidencia pujança e nenhum ramo morto pelo frio do Inverno que atravessou.
Um mês depois, em Maio de 2013, em baixo, foto do autor.



E o processo continua, estando os dois exemplares ainda sujeitos à experimentação de aclimatação, comportamento e reacção ao frio. Durante o Inverno de 2013-2014, um dos exemplares em experimentação passou a estação num local sombrio ao que reagiu favoravelmente. O segundo exemplar exemplar foi mantido no mesmo local inicial, com boa exposição soalheira tendo apresentado resultados igualmente favoráveis.


A propagação desta planta é feita por estaca em cama aquecida, durante os primeiros meses de Outono. As estufas de pequena dimensão com fundo aquecido poderão ser adquiridas nas grandes superfícies de bricolage e são as únicas capazes de manter a temperatura e humidade elevadas, para que as estacas enraízem em bom estado numa mistura de turfa e areia. Estas deverão ser pequenos ramos lenhosos, cujas folhas terminais sejam eliminadas. Utilize hormonas em pó na extremidade inferior da estaca a fim de estimular o enraizamento e aconselho fortificante líquido diluído em água tépida na rega. Ao final de 2 a 4 semanas, as primeiras raízes nascerão. Quando atingirem os 3 cms, devem ser transplantadas para vasos individuais e tratadas como plantas adultas. A temperatura e humidade devem ser mantidas elevadas depois das mudas saírem da estufa aquecida. No caso de ter tido êxito, deve a planta ser colocada no exterior somente no último mês primaveril. O mesmo calendário deverá ser seguido para os demais exemplares, comprados envasados e cuja intenção seja o seu cultivo ao ar livre.

Para que o período de adaptação ao exterior seja o mais suave possível acautele as noites com temperaturas baixas previsíveis de modo a prolongar um ambiente protegido de frio até à chegada do tempo de Inverno, preparando quer as pequenas mudas, quer as frágeis plantas envasadas vindas de ambientes favorecidos dos viveiros, para que consigam responder eficazmente ao clima natural de exterior.

Uma vez ao ar livre adube a planta durante os meses quentes do ano com um NPK 10-10-10. Coloque o fertilizante ao redor do exemplar e jamais junto do seu caule para que não seja queimada devido à concentração de nutrientes. Tente conseguir um bom nível de crescimento da sua planta para que atravesse o Inverno nas melhores condições. Fertilize pelo menos duas vezes durante esse período. Interrompa na chegada dos meses frios.

Outros nomes encontrados entre os viveiristas para Acalypha wilkesiana compreendem A. amentacea e A. tricolor, entretanto actualizados. A informação e concertação na identificação desta espécie não é clara e muitas opiniões surgem publicadas. De acordo com as classificações das listagens do Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido e Missouri, nos EUA, tem como sinonímia;
Acalypha amentacea f. circinata (Müll.Arg.) Fosberg, Smithsonian Contr. Bot. 45: 11 (1980).


Acalypha macafeana é uma designação antiga e não mais aceite para A. wilkesiana. É no entanto comum esta nomenclatura nos viveiros nacionais. O exemplar aqui apresentado, pertence à espécie original a partir do qual diversos cultivares foram desenvolvidos e introduzidos no mercado. (Fotografia não do autor)


Uma outra espécie de Acalypha encontrada no circuito comercial, a Acalypha hispida, não tolera o clima de Portugal continental e qualquer experimentação nesse sentido causar-lhe-á a morte. Não desperdice tempo nem dinheiro e lembre-se que, com frequência, as designações atribuídas nos viveiros estão erradas ou não correspondem aos nomes científicos correctos. Certifique-se que está a comprar o exemplar certo para que não tenha resultados inesperados.

O género Acalypha compreende entre 450 a 500 espécies diferentes e nomeadamente uma é incluída na dieta de alguns povos africanos. Trata-se da A. bipartita.

São listados 1339 nomes aceites e sinónimos para o género Acalypha, nos registos do jardim botânico de Kew. http://apps.kew.org/wcsp/qsearch.do  Somente a Acalypha wilkesiana é abordada por se tratar da mais ornamental entre todas.
Acalypha hispida (Fotografia não do autor)


A escolha desta planta é, talvez, a mais exigente de todas as exóticas passíveis de cultivo em Portugal e seguramente entre as de maior risco de desilusão na sua aparência, se sobreviver. A menor desatenção provoca o amarelecimento, queda ou secura das suas folhas e surge como uma planta muito instável na resposta às condições do meio ambiente.


Etimologia: Acalypha deriva do grego akaluphe e faz referência a um nome antigo para um tipo de urtiga.

Como todas as espécies da família das euphorbiáceas, a Acalypha wilkesiana é tóxica e causa irritação provocada por qualquer parte da planta. A seiva caracteriza-se por um leite viscoso irritante e se entrar em contacto com a pele ou olhos, lave a zona afectada com água abundante. Evite o toque das mãos com os olhos.





Referências bibliográficas:
Complete Gardening in South Africa, Sheat, W G; Schofield, G, Struik
Plantas Tropicales Ornamentales de Tallo Herbáceo, Jesús Hoyos F., Sociedad de Ciencias Naturalles La salle, Caracas, 1999


























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